"O cotidiano será, um dia ou outro, a escola da desalienação" (Milton Santos)

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Política alimentar: o mundo não pode ser um grande supermercado


Chegamos a sete bilhões de seres humanos habitando nosso planeta. Mais da metade deles vive amontoados em grandes cidades. Distantes dos seus locais de origem. E pela primeira vez na história alcançamos a triste estatística de um bilhão de pessoas passando fome, todos os dias. Ou seja, 14% dos seres humanos não têm direito a sobreviver. E entre eles milhares de crianças e suas mães morrem a cada dia.


Por João Pedro Stédile*

21 de Outubro de 2013 - da página do Vermelho


Entre a população que consegue se alimentar, nos foi imposto uma padronização dos alimentos. Há quatrocentos anos, antes do advento do capitalismo, os humanos se alimentavam com mais de 500 espécies diferentes de vegetais. Há cem anos, com a hegemonia da revolução industrial, reduziu-se para 100 espécies diferentes de alimentos, que depois da lavoura passavam por processos industriais. E há trinta anos, depois da hegemonia do capitalismo financeiro em todo o mundo, hoje, a base de toda alimentação da humanidade está representada em 80% na soja, milho, arroz, feijão, cevada e mandioca. 

O mundo virou um grande supermercado, único. As pessoas, independentemente do lugar onde moram, se alimentam com a mesma ração básica, fornecida pelas mesmas empresas, como se fôssemos uma grande pocilga a esperar passivos e dominados a distribuição da mesma ração diária.

Uma tragédia, escondida todos os dias pela mídia a serviço da classe dominante, que se locupleta com o banquete de juros, lucros, contas bancárias, champagne, lagosta. Cada vez mais obesos e desumanizados. Empanturrados de injustiças e iniquidade. Por que chegamos a essa situação?

Porque o capitalismo, como modo de organizar a produção, a distribuição dos bens e a vida das pessoas baseada no lucro e na exploração, tomou conta de todo o planeta. E os alimentos foram reduzidos à mera condição de mercadoria. Quem tiver dinheiro pode comprar a energia para seguir vivendo. Quem não tiver dinheiro não pode continuar sobrevivendo.

E para ter dinheiro é preciso vender sua força de trabalho, se tiver quem compre. Porque, ao redor de 100 empresas agroalimentárias transnacionais (como Cargill, Monsanto, Dreyfuss, ADM, Syngenta, Bungue, etc.) controlam a maior parte da produção mundial de fertilizantes, agroquímicos, agrotóxicos, as agroindústrias e o mercado de venda desses alimentos.

Porque agora, os alimentos são vendidos e especulados em bolsas de valores internacionais, como se fosse uma matéria-prima qualquer, como minério de ferro, petróleo, etc. e grandes investidores financeiros se transformam em proprietários de milhões de toneladas de alimentos, que especulam e aumentam os preços propositalmente para aumentar seus lucros. Milhões de toneladas de soja, milho, trigo, arroz, até as safras vindouras e ainda nem plantadas de 2018, ou seja 5 anos adiante, já foram vendidas. Esses milhões de toneladas de grãos, que não existem, já têm dono.

A fixação dos preços dos alimentos não segue mais as regras do custo de produção, somados os meios de produção e a força de trabalho. Agora são determinados pelo controle oligopólico que as empresas fazem do mercado, e impõem um mesmo preço para o produto, em todo mundo, e em dólar. E quem tiver um custo superior a isso, vai à falência, pois não consegue repor seus gastos.

Porque, nessa fase de controle do capital financeiro, fictício, sobre os bens, que circula no mundo em proporções 5 vezes maiores do que seu equivalente em produção (255 trilhões de dólares em moeda, para apenas 55 trilhões de dólares em bens anuais) transformou os bens da natureza, como a terra, água, energia, minérios, em meras mercadorias sob seu controle. Daí se produziu uma enorme concentração da propriedade da terra, dos bens da natureza e dos alimentos. E qual é a solução?

Em primeiro lugar precisamos repactuar em todo o planeta o princípio de que alimento não pode ser mercadoria. Alimento é a energia da natureza (sol mais terra, mais água, mais vento) que move os seres humanos, produzidos em harmonia e parceria com os outros seres vivos que formam a imensa biodiversidade do planeta. Todos dependemos de todos, nessa sinergia coletiva de sobrevivência e reprodução. Alimento é um direito de sobrevivência. E portanto, todo ser humano deve ter acesso a essa energia para se reproduzir como ser humano, de maneira igualitária e sem nenhuma condicionante.

Os governos têm adotado o conceito de segurança alimentar, para explicar esse direito, e assim dizer que os governos devem suprir de comida os seus cidadãos. É um pequeno avanço em relação à subordinação total ao mercado. Mas nós, dos movimentos sociais, dizemos que o conceito é insuficiente, porque não resolve o problema nem da produção dos alimentos, nem da distribuição e muito menos do direito. Porque não basta os governos comprarem comida, ou distribuírem dinheiro em "bolsas-famílias” para que as pessoas comprem os alimentos. Os alimentos seguem tratados como mercadorias e dando muito lucro às empresas que fornecem aos governos. E as pessoas seguem dependentes, subalternas, antes do mercado, agora dos governos.

Defendemos o conceito de soberania alimentar, que é a necessidade e o direito de que, em cada território, seja uma vila, um povoado, uma tribo, um assentamento, um município, um Estado e até um país, cada povo tem o direito e o dever de produzir seus próprios alimentos. Foi essa prática que garantiu a sobrevivência da humanidade, mesmo em condições mais difíceis. E está provado biologicamente que em todas as partes do nosso planeta é possível produzir a energia – alimentos – para reprodução humana, a partir das condições locais.

A questão fundamental é como garantir a soberania alimentar dos povos. E para isso devemos defender a necessidade de que em primeiro lugar todos os que cultivam a terra e produzem os alimentos, os agricultores, camponeses, tenham o direito à terra e à água. Como um direito de seres humanos. Daí a necessidade da política de repartição dos bens da natureza (terra, água, energia) entre todos, no que chamamos de reforma agrária.

Precisamos garantir que haja soberania nacional e popular sobre os principais bens da natureza. Não podemos submetê-los às regras da propriedade privada e do lucro. Os bens da natureza não são frutos de trabalho humano. E por isso o Estado, em nome da sociedade, deve submetê-los a uma função social, coletiva, sob controle da sociedade.

Precisamos de políticas públicas governamentais que estimulem a prática de técnicas agrícolas de produção de alimentos, que não sejam predadoras da natureza, que não usem venenos e que produzam em equilíbrio com a natureza e a biodiversidade, e em abundância para todos. Essas práticas adequadas é que chamamos de agroecologia.

Precisamos garantir o direito de que as sementes, as diferentes raças de animais e seus melhoramentos genéticos feitos pela humanidade, ao longo da história, sejam acessíveis a todos os agricultores. Não pode haver propriedade privada sobre sementes e seres vivos, como a atual fase do capitalismo nos impõe, com suas leis de patentes, transgênicos e mutações genéticas. As sementes são um patrimônio da humanidade.

Precisamos garantir que em cada local, região, se produzam os alimentos necessários que a biodiversidade local provê, e assim mantermos os hábitos alimentares e a cultura local, como uma questão inclusive de saúde pública. Pois os cientistas, médicos e biólogos nos ensinam que a alimentação dos seres vivos, para sua reprodução saudável, deve estar em convivência com o habitat e a energia do próprio local.

Precisamos que os governos garantam a compra de todos os alimentos excedentes produzidos pelos camponeses e usem o poder do Estado para garantir-lhes uma renda adequada e ao mesmo tempo a distribuição dos alimentos a todos os cidadãos.

Precisamos impedir que as empresas transnacionais continuem controlando qualquer parte do processo de produção dos insumos agrícolas, da produção e distribuição dos alimentos.

Precisamos desenvolver o beneficiamento dos alimentos (no que se chama de agroindústria) na forma cooperativa sob controle dos camponeses e trabalhadores.

Precisamos adotar práticas de comércio internacional de alimentos entre os povos baseadas na solidariedade, na complementariedade e na troca. E não mais no oligopólio das empresas, dominadas pelo dólar americano.

O Estado precisa desenvolver políticas públicas que garantam o princípio de que o alimento não é uma mercadoria, é um direito de todos os cidadãos. E as pessoas só viverão em sociedades democráticas, com seus direitos mínimos assegurados, se tiverem acesso ao alimento-energia necessário.

O alimento não é mercadoria, é um direito!

*Brasileiro, cidadão do mundo e membro da Vía Campesina e do MST 

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Agroecologia: brotam sementes livres


plantas
O Plano Nacional de Agroecologia é uma conquista dos movimentos que reivindicam uma nova política agrícola. E uma oportunidade para a sociedade escolher de que se alimenta
Por Bruna Bernacchio
Mais de um ano depois de intenso trabalho conjunto do governo e organizações do campo, foi lançado em 17 de outubro o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, que apresenta medidas concretas a serem implementadas até o fim de 2015. O investimento, de R$ 8,8 bilhões nos próximos três anos, é inédito na produção agroecológica brasileira. Ainda não representa nem um décimo do subsídio dado pelo governo federal ao agronegócio, mas é um primeiro passo para fortalecer a agroecologia e permitir que a sociedade reflita a respeito da autonomia alimentar.

Desde o lançamento das diretrizes políticas instituídas no decreto nº 7.794, de agosto de 2012, coube à Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Cnapo) – formada, metade por representantes da sociedade organizada e metade por órgãos públicos –, a tarefa de dialogar com 14 ministérios, representados na Câmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica (Ciapo). Um ano depois, são lançadas a público as 125 iniciativas do Plano, a serem iniciadas ainda em 2013, e atingidas até o final de 2015. Estão distribuídas em quatorze metas e organizadas a partir de quatro eixos estratégicos: a) produção, b) uso e conservação de recursos naturais, c) conhecimento, e d) comercialização e consumo.
Para a agroecologia, que sempre existiu como prática mas que já há um século consolidou-se como conhecimento científico – sem nunca ter apoio do Estado –, os recursos de R$ 8,8 bilhões são inéditos.
Desses, 7 bilhões em forma de crédito rural, em modalidades de custeio e investimento. R$2,5 bilhões para financiar pequenos sistemas de base agroecológica, através do já existente Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que no próximo ano, conforme Plano Safra 2013/2014, terá recurso total de R$ 39 bilhões. Isso significa que, de todo o subsídio para agricultura familiar, 5% passarão a ser reservados para agricultura familiar orgânica. E R$ 4,5 bilhões disponibilizados por meio das linhas de crédito do Plano Agrícola e Pecuário, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e portanto não exclusivos para agricultura familiar, mas também para grandes produtores. Terão como objetivo estimular a conversão para sistemas agroecológicos e sua ampliação. A transição é definida no conceito normativo da agroecologia, e, uma vez completa, deverá seguir as normas de certificação.
Somente 10 mil agricultores possuem certificado de produção com base agroecológica, hoje, no país – segundo dados do Plano. A meta é chegar aos 50 mil certificados, o que inclui mecanismos de visita e avaliação de garantia de qualidade. Mas esse número se refere somente à certificação de auditoria, explica Dênis Monteiro, da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). Além dele, existem a certificação por Sistema Participativo de Garantia (SPG) e a partir de organismo de controle social – estabelecido em casos de venda direta, ou seja, feiras, mercados locais ou por Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Pelo Censo Agropecuário do IBGE de 2006, cerca de 90 mil produtores – entre familiares e industriais – se autodeclaram orgânicos, ou seja, não utilizam em sua produção agrotóxicos ou nenhum tipo de insumo químico ou geneticamente modificado. Isso não significa, porém, que se baseiam na agroecologia. A grande maioria ainda desenvolve o sistema tradicional de produção – realizando queimas do solo ou monoculturas, por exemplo –, mas, com os créditos e aperfeiçoamento técnico que o Plano pretende oferecer, pode realizar a transição para o sistema agroecológico facilmente.
Se comparado aos R$ 138 bilhões de recursos ao agronegócio, definidos pelo Plano Safra 2013/2014, os R$ 8,8 bilhões para a agroecologia são quase insignificantes. Ainda assim, trata-se de mudança importante que começa a ser inserida no crédito do Mapa e do Pronaf. Além dos recursos em crédito, os R$1,8 bilhões restantes terão diversos destinos.
Indiretamente, ainda para produção, R$805 milhões, vindos do BNDES, servirão para apoiar 30 redes, 250 projetos e 100 cooperativas voltadas à articulação e ao fortalecimento da produção, processamento, certificação, e comercialização de produtos. Tal recurso leva em conta uma característica essencial do movimento de formação e expansão da agroecologia: a ação em rede. A troca de saberes, técnicas e insumos é a base das relações entre os agricultores. São centenas de organizações e associações municipais e estaduais que atuam como agregadoras. Vale ressaltar que, dos R$ 805 milhões, 30% dos projetos devem ser para mulheres.
A especificação de gênero também está presente em edital da Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), que vai atender 75 mil pessoas, sendo 50% mulheres. Além da ampliação e enfoque dado ao Ater, o eixo “conhecimento” prevê uma série de medidas para apoiar e fortalecer a área nas instituições de ensino. Vai apoiar projetos que incentivem a produção de conhecimento e inovação tecnológica e que integrem atividades de pesquisa, educação e extensão para a construção e socialização de conhecimentos e práticas relacionadas. Vai também realizar oficinas externas para fortalecer a rede de agroecologia e incorporar o tema nas demais redes; apoiar publicações, implementar novos núcleos de pesquisa; e outras medidas, entre elas, algumas específicas para estimular a autonomia da juventude.
O eixo “uso e conservação de recursos naturais” tem duas grandes frentes de ação. A primeira vai destinar mais de R$ 168 milhões em 14 medidas para a diversidade das sementes criolas – produção, manejo, conservação, aquisição, distribuição, mapeamento de espécies, apoio a organizações, trabalhos de educação ambiental, e compra das sementes pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – que, também pelo Plano, vai adquirir produtos já prontos para consumo.
A valorização das sementes livres resiste como movimentos independentes no mundo todo. Vinda do Estado, é um recurso surpreendente e muito bem-vindo. A segunda frente desse eixo “uso e conservação de recursos naturais”, bastante tímida, leva em conta o respeito à preservação e o uso sustentável dos territórios, mas, com apoios que se limitam a passos iniciais, de estudos, pesquisas, diagnósticos e mapeamentos.
Por fim, para “comercialização e consumo”, estão previstas 13 medidas, entre elas a disponibilização de R$ 23 milhões para promover a participação de agricultores familiares, assentados, comunidades e povos tradicionais em feiras – sem definir quantidade ou territórios. Também torna política nacional a aquisição de produtos da agricultura familiar pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), numa proporção ainda tímida de 30%. Quanto à esperada popularização e ampliação de orgânicos nos mercados “comuns”, uma única medida vai “qualificar a gestão de 150 Organizações Econômicas Familiares (OEF) de agricultores agroecológicos e orgânicos”, ampliando o acesso dos produtores a esses locais.
Além dessas e outras metas que apoiam o fortalecimento da agricultura orgânica está uma, única, que indica o início do combate ao agronegócio: “criar um programa nacional para a redução do uso de agrotóxicos”. Terá recurso total de pouco mais de R$23 milhões, para a realização de sete medidas, entre elas: desenvolver um Programa Nacional para Redução do Uso de Agrotóxico satravés de grupos de trabalho; revisar a legislação ampliando os mecanismos de controle, considerando o grau de risco dos produtos utilizados atualmente; listar agrotóxicos prioritários a terem suas autorizações de uso no Brasil reavaliadas, lista essa “que passará a ser referência para definição de priorização de pesquisas e agilização de registros de produtos alternativos”.
Regando a primeira colheita
O documento do plano detalha as 125 medidas das 14 metas com relação ao órgão responsável, cronograma e orçamento. A construção dessas medidas começou em seminários municipais e estaduais abertos a qualquer pessoa da sociedade. Propostas e críticas foram colhidas pela Comissão Cnapo — formada pelos principais movimentos sociais do campo: ANA, a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), a Articulação Semiárido (ASA), Via Campesina, Marcha das Margaridas, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf). É papel da Comissão e outros conselhos e fóruns monitorar de perto e propor novas alterações das medidas.
Claro que o resultado final do plano não é a política pública ideal dos movimentos, mas estes entendem que essa versão é muito melhor do que as apresentadas anteriormente. “A gente considera que o plano tem ações muito significativas. Se ele for executado, de fato vai contribuir para o fortalecimento, aumento e diversificação da produção agroecológica” – afirma Dênis. “O desafio maior agora é ele não ficar na gaveta. Porque a gente sabe que esse risco existe”. Pela relação de diálogo que os movimentos há anos vêm construindo, e o aparente empenho dos gestores, esse não parece ser o destino do plano. Mas, reflete ele, “vai depender muito da capacidade de pressão”; [...] “o Plano não é do governo, o Plano é da sociedade. Que possa ser levado pelos movimentos como instrumento de pressão nas suas jornadas de mobilização e de luta”.
“Entendemos que ele vai operar num contexto político difícil. Um plano de agroecologia não é compatível com o modelo do agronegócio. Questionamos essa ideia de que é possível a convivência pacífica e harmoniosa desses dois modelos”. Têm clareza de que só será possível de fato consolidar a agroecologia como modelo quando o governo retirar o apoio ao agronegócio. E isso inclui não só o desigual subsídio financeiro, mas também o fim da compactuação quanto ao uso dos venenos, à destruição das reservas ambientais e a necessidade da reforma agrária.
A mudança de paradigma vai sendo feita aos poucos. O relatório sobre o Direito à Alimentação, apresentado por Olivier de Schutter ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, em janeiro de 2012, foi decisivo para a articulação com o governo, lembra o agroecologista Oliver Blanco: “É uma ampla revisão de literatura científica publicada nos últimos 5 anos, que ‘identifica a agroecologia como um meio de desenvolvimento agrícola que tem resultados comprovados para um rápido progresso na concretização do direito à alimentação’”.
Para alcançar a autonomia dos produtores e dos consumidores, a prática de outro modelo de ciclo alimentar é um dos pontos centrais. E a questão que paira é: o que você alimenta, quando se alimenta? Para Blanco, os movimentos sociais não temem a contradição ainda existente, “pois estão retomando um modo de produção há muito tempo negligenciado, desde os anos 50, jogado no fundo do poço pela ditadura e agora, protagonista de uma história real: 2014 é Ano Internacional da Agricultura Familiar no mundo”.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Projeto FLORA: Florestando a Reforma Agrária – Cultivando Agrobiodiversidade no Paraná








No primeiro semestre deste ano, foi aprovado junto à Petrobrás o projeto FLORA: Florestando a Reforma Agrária – Cultivando Agrobiodiversidade no Paraná. De 700 projetos inscritos, 45 foram selecionados, sendo  12 da Região Sul do Brasil. As  atividades iniciaram em agosto e o período de execução é de 24 meses.
O Projeto, cuja entidade proponente é o  Instituto Latino Americano de Agroecologia, Educação, Capacitação e Pesquisa da Agricultura Camponesa Contestado – ICA, tem como objetivo promover a reconversão produtiva de áreas e a recuperação de áreas degradadas, através da formação e capacitação de camponeses e camponesas, de um amplo processo de educação ambiental e de um processo dialógico entre conhecimento empírico e conhecimento acadêmico, a melhoria do agroecossistema e a conservação ambiental aliadas à geração de renda, nas áreas de reforma agrária do estado do Paraná.
Será realizado em 6 regiões do estado do Paraná, e 33 municípios:

Região de atuação no Estado do Paraná
Municípios
SUL / CENTRO
Antonina, Bituruna, Castro, Guarapuava, Imbaú,  Inacio Martins, Lapa, Morretes, Ortigueira,Palmeira, Ponta Grossa, Texeira Soares
SUDOESTE /OESTE
Diamante do Oeste, Mariluz, Ramilândia, Renascença, São Miguel do Iguaçu
NORTE/ NOROESTE
Amaporã, Arapongas, Centenário do Sul, Congonhinhas, Florestópolis, Itaguajé, Jardim Alegre, Londrina, Peabiru, Paiçandu, Paranacity, Planaltina do Paraná, Querência do Norte, S. Jerônimo da Serra, Sta. Cruz do Monte Castelo, Terra Rica
Tabela 1 – Regiões e municípios onde se realizará o projeto

Todas as ações do projeto vão ser desenvolvidas a partir do ICA - Escola Latinoamericana de Agroecologia, da ATEMIS, associação mantenedora da Escola Milton Santos, e do ITEPA/ Escola José Gomes da Silva - as três instituições são centros de formação em agroecologia que atuam na formação de camponeses e camponesas dos Assentamentos de Reforma Agrária do Estado do Paraná.  Cada centro de formação ficará responsável por executar as ações em duas regiões do estado do Paraná.
Além de uma equipe técnica, o projeto contará com agentes multiplicadores nas comunidades para contribuir na execução das ações e na multiplicação  das  propostas do projeto.
A gestão do projeto será realizada de forma participativa visando a contribuição das  equipes técnicas e pedagógicas dos centros de formação, educadores, dos educandos e das famílias que estarão envolvidas, para o planejamento, execução e avaliação das ações.
            As atividades a serem desenvolvidas incluem:
            - Seminários
- Implantação de sistemas agroflorestais em assentamentos de reforma agrária, com acompanhamento técnico
- Processo continuado de formação técnica agroflorestal e de manejo dos recursos naturais (cursos, visitas e intercâmbios, oficinas);
- Caravanas Ambientais nos Colégios dos Assentamentos
            - Pesquisa e sistematização do potencial de conservação e recuperação ambiental nas áreas destinadas a reforma agrária, sistemas de produção para cada região e espécies potenciais
            - Plantio de árvores nativas nos centros de formação e colégios estaduais
- Elaboração de vídeo de divulgação e de uma Revista com os resultados do projeto
- construção  de um cd com musicas da cultura camponesa para educação ambiental
           
O projeto envolve também as seguintes parcerias:
·         COOPERAFLORESTA – Cooperativa de Produtores Agroflorestais da Barra do Turvo
·         Embrapa - Florestas
·         Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz – ESALQ- USP
·         Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA
·         Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR
·         Instituto Ambiental do Paraná – IAP
·         Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG
·         Rede de Escolas de Assentamentos de Reforma Agrária do Paraná - REARA

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Encerrada 2a. Etapa de Tempo-Escola do Curso de Pedagogia do Campo



Encerrou na sexta- feira, dia 2 de novembro, a segunda etapa de Tempo-Escola/Universidade do curso de Pedagogia para Educadores do Campo, parceria entre a Universidade Estadual de Maringá-UEM, em parceria com o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e  a Escola Milton Santos, com apoio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA). Os 31 educandos, de comunidades de beneficiários da Reforma Agrária dos Estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, estavam em Tempo Escola/Universidade desde o dia 9 de setembro - tendo na UEM o espaço de estudo e pesquisa (salas de aula, biblioteca, laboratórios e museu), e na Escola Milton Santos seus tempos e espaços educativos, com a prática da auto-gestão, da convivência, do estudo e do trabalho. 
 
Esta etapa teve vários momentos marcantes, dentre os quais podemos destacar:

1) Viagem Pedagógica  - II Festival de Artes das Escolas de Assentamentos do Paraná
De 07 a 10 de outubro, a turma de Pedagogia do Campo esteve em Curitiba – Paraná, na atividade promovida pela Rede Escolas de Assentamentos de Reforma Agrária-REARA. Participaram do evento cerca de 2 mil estudantes de 50 escolas do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.  



 A turma de Pedagogia para Educadores do Campo foi convidada a integrar-se à Comissão Organizadora do evento e iniciou os trabalhos já no dia 6 de outubro, nas atividades de secretaria do evento e monitoria (orientação e acompanhamento às escolas participantes).

Educandas da turma no Ginásio Tarumã, durante o festival.



Para mais informações sobre o festival, clique aqui.


2) Seminário “Clássicos da Pedagogia - Anton Makarenko”
No dia 19 de outubro o Coletivo de Acompanhamento organizou o seminário com a professora e jornalista Cecília da Silveira Luedmann, autora do livro “Makarenko, vida e obra: a pedagogia da revolução”. A turma teve um intenso processo de preparação ao seminário, com orientação da professora Dra. Marta Chaves, da disciplina de Literatura e Linguagens, lendo e debatendo textos do autor.
A obra estudada e 
debatida com a autora.

A professora resgatou o momento histórico em que se produziu esta rica experiência pedagógica, bem como a trajetória pessoal de Makarenko, elencando suas principais contribuições.


Anton Makarenko, Máximo Gorki e educandos da colônia, 
  em 1928. Fonte: Associazione Italiana Makarenko.

De acordo com o relato de uma das educandas da turma:

“As contribuições de Makarenko vem de encontro a nossos anseios, no sentido da preposição da escola coletividade, de uma formação integral do ser humano nas suas dimensões, do trabalho como principio educativo e principalmente de uma educação humanizadora e emancipadora da classe trabalhadora. A escola precisa ser em todo seu tempo e espaço organizada para proporcionar a criança uma educação humanizadora. É necessário pensar o ensino com competência, disciplina e rigor, estes são elementos essenciais neste processo, assim como a organização, o planejamento, a apropriação do conhecimento científico, construído historicamente pela humanidade em busca de formar sujeitos ativos, criativos e construtores da historia que em conjunto com outros sujeitos faz e refaz a história”.

Cecília Luedmann autografando livros.
            

3) Seminário “Complexos de estudo – Fundamentos da experiência pedagógica e curricular da Escola Itinerante”
  No dia 22 de outubro, o Coletivo de Acompanhamento organizou o seminário com o professor e pedagogo Valter Leite, com o apoio da professora da disciplina de Currículos e Programas Dra. Rosângela Célia Faustino. O professor Valter destacou que “a escola não é preparação para a vida, mas está nela, participa da vida e deve desenvolver seu trabalho educativo considerando suas variadas dimensões. (...) Entretanto, a ligação com a vida que se propõe não significa abandonar a ciência, o conhecimento”.

           O professor Valter Leite durante o seminário.

           Para saber mais sobre as Escola Itinerantes, acesse o link.


            Alguns outros momentos marcantes da etapa estão registrados nas fotos abaixo:

                                                  Apresentação de balé - disciplina de Literatura e Linguagens.


 Mística durante o tempo-formatura.

A turma com o professor de Questão Agrária, Elpídio Serra.

Projeto na Ciranda Infantil da Escola Milton Santos
 - profa. Marta Chaves.

Orientação dos trabalhos do tempo-comunidade no último dia da etapa.

Mística de encerramento da etapa.

Sendo um curso organizado em regime de alternância, os educandos iniciaram em seguida o Tempo Comunidade, que é um

tempo de formação intencional que implica na reflexão crítica sobre o que, como, para que e com quem se aprende. O Tempo Comunidade se realiza por meio de projetos educativos, em que a educação deve estar vinculada ao mundo vivido dos sujeitos e a um projeto de desenvolvimento sustentável (PRONERA, 2012, p. 111)”.

Neste Tempo Comunidade, os educandos tem tarefas de leitura dirigida, pesquisas de campo e intervenções junto às escolas do campo, além de darem continuidade à participação ativa na vida das comunidades e às suas atividades de camponeses e/ou professores das escolas.

O primeiro Tempo Escola/Universidade ocorreu nos meses de abril e maio deste ano; serão 8 etapas no total, com previsão de encerramento no final de 2016. 

PARA SABER MAIS SOBRE O CURSO DE PEDAGOGIA DO CAMPO UEM/PRONERA/EMS, CLIQUE AQUI