Nós, mais de 3 mil participantes da 12ª Jornada de Agroecologia,
vindos de diferentes regiões do Brasil, reunidos nas cidades de Maringá
e Paiçandu, Paraná – Brasil, entre os dias 07 e 10 de Agosto de 2013,
reafirmamos nosso compromisso com a Agroecologia e assim damos
continuidade a nossa luta por uma Terra Livre de Latifúndios, Sem
Transgênicos e Sem Agrotóxicos, e pela construção de um Projeto Popular e
Soberano para a Agricultura.
Desde a 1ª Jornada de Agroecologia
em 2002, temos reafirmado a agroecologia como resultado do árduo e
consciente trabalho de milhares de famílias camponesas, sem o apoio de
políticas públicas do Estado, estruturantes e sistemáticas, para
agroecologia.
Finalmente em 2012, o Governo Federal atendeu o clamor histórico do campesinato e tomou a iniciativa de decretar a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, e em julho de 2013, o Conselho de Ministros aprovou o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica - PLANAPO para vigorar até 2015. Mesmo que o PLANAPO
não contemple suficientemente as necessidades do campesinato para o
pleno desenvolvimento da agroecologia, se faz urgente que o Governo
Federal tome as medidas para efetivá-lo de imediato disponibilizando os
recursos previstos neste plano a fim de que não se torne mais uma carta
de intenção.
Mais uma vez iniciamos a Jornada de Agroecologia
com uma ampla marcha realizada no centro da cidade de Maringá para
demonstrar que a agroecologia se constrói com mobilização e luta
permanentes. Neste sentido continuaremos vigilantes e mobilizados para a
efetivação do PLANAPO para que de fato se torne uma política estruturante da agroecologia e enfrentamento ao agronegócio.
A
experiência acumulada nos 12 anos de Jornadas de Agroecologia pôde
apresentar publicamente um conjunto de experiências consolidadas de
agroecologia nas dimensões da produção, cooperação,
agroindustrialização, comercialização e abastecimento popular e
institucional, organização comunitária, saúde, educação, pesquisa e
assistência técnica. É expressão comum destas iniciativas a garantia do
direito humano à alimentação saudável em diversidade e qualidade
nutricional, para o autosustento das famílias camponesas e setores
populares da sociedade.
A 12ª Jornada de Agroecologia
se fez realizar na Escola Milton Santos, que nos seus 12 anos de
atividades formou quatro turmas de Técnicos em Agroecologia – nível
médio, totalizando 80 jovens oriundos de assentamentos de reforma
agrária e comunidades camponesas tradicionais, como parte de uma rede de
escolas dos Movimentos Sociais do Campo, rompendo assim com o
latifúndio do conhecimento e o monopólio do agronegócio sobre as
ciências agrárias.
A manutenção da biodiversidade e da
agrobiodiversidade se verifica em melhor estado e de maneira estratégica
nos territórios da reforma agrária e das comunidades camponesas
tradicionais, enquanto impunemente o passivo da destruição ambiental
realizado pelo latifúndio é assumido pelo Estado e pelas famílias
assentadas. A mesma impunidade ambiental se verifica em favor do
agronegócio que atua sistematicamente no bloqueio da reforma agrária, na
desregulamentação do Código Florestal e no ataque aos direitos
territoriais dos povos indígenas, quilombolas e dos povos e comunidades
tradicionais.
Em oposição à agroecologia, ao campesinato, aos
povos indígenas, quilombolas e às comunidades tradicionais, o Estado em
geral e os Governos seguem patrocinando majoritariamente a reprodução e
expansão do agronegócio com seus monocultivos extensivos de árvores para
celulose e papel, cana de açúcar, soja e milho, laranja e bovinos; e
das corporações dos setores hidroelétrico e mineração.
A aliança
do Estado e Governos com o agronegócio e as corporações transnacionais
se estende pela via de políticas de liberalização dos transgênicos da
qual decorre o crescente uso de agrotóxicos que posiciona o agronegócio
no Brasil como seu maior consumidor mundial. Na mesma dimensão, impôs à
nação brasileira a perda da sua soberania na agricultura destacando-se a
transnacionalização da produção e oferta de sementes, a contaminação
genética da agrobiodiversidade, o controle e conversão de amplos
territórios de produção de alimentos básicos para a produção de
‘commodities’ para exportação. Impacta ainda como imposição e domínio
sobre os agricultores que se veem dependentes da aquisição de sementes e
tecnologias das empresas.
Denunciamos as manobras em curso no
Congresso Nacional, especialmente articuladas por interesses da CNA,
Bancada Ruralista e Empresas Transnacionais que visam restringir
direitos dos agricultores, aprovar a liberação da tecnologia das
sementes estéreis (“terminator”), e suprimir a rotulagem dos produtos
transgênicos.
Em contraponto, seguimos em convergência com as
manifestações populares ocorridas em junho de 2013, que expressaram sua
desaprovação pelas formas institucionais de representação e a oferta de
uma falsa democracia, pela desqualificação dos serviços públicos e
privatizados, o repúdio aos bancos e às grandes empresas de comunicação.
Convergimos também com todas as lutas dos povos que forjam a
emancipação humana, com a inclusão da dimensão ecológica da vida e
assumimos, no cotidiano dos nossos territórios e de nossas vidas, o
desafio da reconstrução ecológica da agricultura.
Maringá/Paiçandu, Paraná, Brasil, 10 de Agosto de 2013.
Plenária Final da 12ª Jornada de Agroecologia
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