A
escolha do nome de identidade da Escola Milton Santos, tem origem no contexto
das lutas no âmbito da sociedade Latino Americana, num período histórico em que
o tema da globalização era efervescente, principalmente na organização e
levantes dos povos, no campo do enfrentamento contra a expansão do capital. O lema/palavra de ordem da Via
Campesina “Globalizemos a Luta, Globalizemos a Esperança” tem origem neste
contexto histórico, em que também atuou Milton Santos.
Milton de Almeida Santos
nasceu em Brotas de Macaúba, na Chapada Diamantina, no 3 de maio de 1926, filho
de um casal de professores primários. Formou-se em direito na Universidade
Federal da Bahia, em 1948, e dez anos depois ganhou a Europa, tornando-se
doutor em geografia pela Universidade de Estrasburgo.
Foi um ativista político
desde a juventude, lutou contra as péssimas condições de vida dos trabalhadores
do campo e da cidade, contra o racismo, contra a flagrante degradação social no
Brasil, promovida pela globalização neoliberal. Em 1964, por suas posições de luta, perdeu a
cátedra na Universidade Federal da Bahia e esteve preso num quartel do Exército
durante a ditadura militar. Após a prisão, deixou o país, permanecendo exilado
até 1977.
Durante
sua vida, com seu trabalho e conhecimento produzido no bojo das transformações
sociais deixou como patrimônio histórico uma grandiosa produção teórica para as
gerações futuras: escreveu mais de 40 livros e 300 artigos, publicados em pelo
menos seis países. Além de suas obras, as aulas e as viagens levaram Milton
Santos a receber 20 títulos honoris causa
pelo mundo, e um prêmio como o Vautrin
Lud (o "Nobel" da Geografia), em 1994, tornando-se o único intelectual a recebê-lo
fora dos países de língua inglesa. Milton Santos faleceu em São Paulo, no dia
24 de junho de 2001, aos 75 anos, vítima de câncer.
A expansão
da globalização do capital foi tema de estudo de Milton Santos, num momento em que
a humanidade já vivenciava com maior intensidade seus efeitos. Em especial, países
da América Latina vivenciavam os dilemas históricos sobre a real possibilidade
de implantação da ALCA (estratégia geopolítica, militarizada, cultural e
econômica) pelo Imperialismo Norte Americano. E o MST, apesar das muitas limitações, buscou
contribuir na construção de instrumentos capazes de ajudar a articular as lutas
continentais e internacionais: o movimento continental dos 500 anos de
resistência indígena negra e popular, a organização da CLOC (Coordenadora
Latino-americana de Organizações do Campo), a Via Campesina, o Fórum Social
Mundial, a luta contra a Alca e os vários comitês de solidariedades espalhados
pelo mundo.
Nesse período, outro aspecto importante foi a realização de dois
distintos Fóruns Mundiais. Milton Santos,
na luta por uma outra globalização, participou no Fórum Social Mundial de Porto
Alegre em 2001. Essa atividade foi em contraponto ao Fórum econômico de Davos
realizado na Suíça.
Em sua obra Por uma outra globalização, Milton Santos explica que a agricultura
também foi incorporada à lógica da organização da economia capitalista, no que
ele chamava de “agricultura científica globalizada”, materializada
no campo pela presença e ampla atuação das empresas transnacionais, por
intermédio da imposição de tecnologias (sementes, inseticidas,
fertilizantes, corretivos) e apropriação dos recursos
naturais. Os bens naturais (terra, água, sementes, toda a biodiversidade)
tornam-se aos poucos propriedade privada e mercadoria, e assim, o campo tem
sido um espaço e território utilizado para reprodução e acumulação de capital.
Os Movimentos
Sociais Populares do Campo identificam essa fase da agricultura capitalista
pelo nome de agronegócio.
Milton
Santos, em suma, foi um homem à frente de seu tempo e que deixou lições de
vida. Foi um internacionalista, um lutador contra as injustiças sociais, um
militante defensor da classe trabalhadora. Ele afirmava que o verdadeiro
intelectual não cede aos modismos da época nem à tentação do sucesso fácil.
Dizia que devemos lutar por uma universidade não atrelada ao mercado ou à
técnica. E que sem a curiosidade, o homem não chegará a lugar nenhum.
Frases de Milton Santos
“O sonho nos
obriga a pensar.
Ousamos, desse modo, pensar que a história do homem sobre a Terra dispõe
afinal das condições objetivas, materiais e intelectuais, para superar o
endeusamento do dinheiro e dos objetos técnicos e enfrentar o começo de uma
nova trajetória”.
“Somente nós, os pobres,. Podemos fazer um debate pedagógico da
verdadeira política” (frase gravada na parte externa
de um dos prédios da Escola).
“A força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos, que apenas
conseguem identificar o que os separa e não o que os une”.
"Essa globalização não vai durar. Primeiro,
ela não é a única possível. Segundo, não vai durar como está porque como está é
monstruosa, perversa. Não vai durar porque não tem finalidade."
Para saber mais:
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